O filme ficou menos de 24 horas na internet, mas não conheço uma só
pessoa que não o tenha visto. A repercussão foi enorme e gerou notícia
em todos os veículos.
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Seria um dos "cases" de marketing mais bem sucedidos do ano, não fosse
por um detalhe: pode gerar um processo milionário e causar prejuízo para
muitas das partes envolvidas.
Estou falando do vídeo estrelado por Murilo Benício
criado pela agência VML para a promoção "Vivo Sempre Internet", da
maior operadora de telefonia celular do Brasil. À primeira vista, é uma
excelente peça de oportunidade. Sem jamais citar seu personagem Tufão,
da novela "Avenida Brasil", o ator fala para a câmera o seguinte texto:
"Eu passei os últimos meses sendo o último a saber das coisas. O Brasil
inteiro sabia, tava tudo debaixo do meu nariz e eu nem desconfiava.
Acabei arrumando coisa pra minha cabeça. Enquanto o pessoal tava lá por
dentro, eu ficava fazendo cara de bobo. Mas agora não tem mais essa,
não... Tô na internet, todo dia, toda hora".
Aí seu celular avisa que chegou um SMS, e Murilo/Tufão pega o aparelho para conferir.
"Aqui ó, acabaram de me postar uma mensagem. Urgente, você tem que ver essas fotos... Hunf. Essas fotos aqui eu já vi".
Os responsáveis pelo anúncio assumiram um risco: quem sabe a Globo deixa
passar batido, já que em nenhum momento se fala explicitamente em
Tufão? A emissora permite a seus atores contratados que façam
publicidade (aos jornalistas, não), mas veta explicitamente o uso de
personagens. Será que vai colar?
Não colou. A Globo reclamou publicamente, e no dia seguinte a agência retirou o comercial do ar.
A emissora também promete acionar o Conar, o Conselho Nacional de
Auto-Regulamentação: um órgão criado e gerido pelos publicitários cujas
decisões não têm valor legal, mas que são seguidas à risca por agências e
anunciantes. Além disso, vai entrar na Justiça, alegando ter sido
vítima de "marketing de emboscada".
O mercado de propaganda está surpreso com a reação do canal, que estaria
pegando pesado demais. Afinal, a VML é ligada à Young & Rubicam, a
primeira colocada no ranking das maiores agências do país, e a Vivo é um
dos maiores anunciantes brasileiros. A Globo estaria comprometendo seu
relacionamento com alguns de seus principais clientes?
Talvez, mas há algo maior em jogo. Em tempos de internet, é muito fácil e
rápido colocar um comercial no ar. E mais fácil ainda tirá-lo, sob a
desculpa de que ninguém sabia que estava infringindo regras. Claro que
não há inocentes nessa história: nem mesmo Murilo Benício, que
provalvelmente levará uma advertência de seus patrões.
Globo está buscando uma punição exemplar, pois, se a moda pega, terá
suas propriedades intelectuais ameaçadas. Não há nada de excepcional
nisto: no mundo inteiro, especialmente nos Estados Unidos, há mil
regulamentações quanto ao uso de personagens de ficção na propaganda.
Existem até calhamaços que detalham as posições que os bichinhos dos
quadrinhos ou desenhos animados podem assumir (ou não) nas peças
publicitárias.
Esta é uma briga de cachorro grande, e vai ser interessante acompanhar
seu desenrolar. E mais um capítulo da saga de como a internet está
mudando absolutamente todas as relações do mundo moderno, das comerciais
às pessoais.
Fonte: http://f5.folha.uol.com.br/colunistas/tonygoes/1169319-globo-busca-punicao-exemplar-ao-reagir-a-comercial-com-tufao.shtml
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